Cabeça Dinossauro

por Laís Semis

Arnaldo Antunes pode até ter um lado sombrio, de cabelos negros arrepiados, olhos arregalados, magro – lembrando a juventude punk do pistol Johnny Rotten, uma aura roqueira, combinada à voz sem muito sentimento está um guarda-roupa às vezes refinado à Tim Burton. Em cortes de cabelo ou em escolha de roupas ousadas, ternos com partes de cores diferentes é que Arnaldo Antunes, à primeira vista, deixa de ser um cara qualquer com um trabalho comum para ser um cabeça dinossauro roqueiro.

O ex-titã Arnaldo Antunes

A face oposta a essa imagem de Arnaldo foi a que ele dedicou mexer com a imaginação das crianças. Em 94, gravou “Dorme” para o disco infantil “Canções de Ninar”. Para a geração que cresceu assistindo Castelo Rá-Tim-Bum e não sabe, Arnaldo Antunes é quem canta o tema “Lavar as mãos” (“Lava uma mão, lava outra mão, lava uma…”). Castelo à parte, por se tratar de um conjunto de artistas “cabeças” trabalhando para um público infantil, resultando num interessante, adorado e bem sucedido programa, recentemente, o ex-titã gravou o disco “Pequeno Cidadão”, mais uma vez poetizando para crianças.

Autor de 16 livros, em sua maioria poesias, tem artigos e poemas publicados em jornais, atuou no curta “Rock Paulista” (de 88), participou de curadorias e exposições como artista plástico. Conseguiu trazer seu vigor reflexivo para todas essas formas em que decidiu poetizar.

Tempos de Titãs

Antes de ter um grupo de excelentes músicos que o acompanham pelas suas turnês solo (como o incrível multi-instrumentista Marcelo Jeneci que acabou ‘abandonando’ Antunes para seguir sua própria carreira solo e cujo trabalho vale a pena conferir), Arnaldo Antunes passou 10 anos com os Titãs.

Foi em 75 que conheceu os companheiros do que seriam, mais tarde, os Titãs e já nessa época, aos 15 anos, começou a compor com Paulo Miklos. Porém, foi só em 82 que os Titãs (“do Ieiê”, como eram conhecidos antes de gravarem seu primeiro álbum) se apresentaram pela primeira vez. Paralelo aos Titãs, Arnaldo mantinha ativamente a Banda Performática (em que as performances, que incluía pentear discos, ficavam a cargo dele), que tinha dois anos de palco e estava gravando seu primeiro LP naquele ano, além de também compor e tocar com Os Intocáveis. O poeta e artista plástico ainda se dedicava a escrever livros.

Em 84, com o sucesso de “Sonífera Ilha”, os Titãs se tornam conhecidos nacionalmente participando de programas de auditório e emplacando diversos shows pelo país. Os anos 80 foram generosos com as bandas nacionais, gerando nomes que há 30 anos produzem sucessos radiofônicos de qualidade e, mesmo que percam alguns integrantes para outros projetos e para o tempo, continuam firmes atacando com shows, novos discos e emplacando mais alguns hits.